Iluminação artificial instalada no Centro Universitário da Universidade Unilasalle/Lucas
Uma universidade em Mato Grosso realizou, em janeiro, a primeira colheita de lúpulo produzido no Estado. A planta é essencial na cerveja, dando à bebida o amargor característico e aroma, mas seu cultivo no Brasil ainda é reduzido por causa das condições climáticas.
À frente do projeto está a professora Ivonete Hoss, que é mestre em Química Avançada e Aplicada.
Para vencer um dos maiores entraves na produção - a falta da luminosidade típíca do verão no Hemisfério Norte, onde estão os grandes produtores -, os pesquisadores usaram lâmpadas de LED. As luminárias eram ligadas ao final do dia para auxiliar no desenvolvimento das plantas.
O projeto de extensão, criado em março de 2021, é desenvolvido dentro do curso de graduação de Agronomia da Universidade Unilasalle/Lucas, no campus sede, em Lucas do Rio Verde.
“O Brasil é grande produtor e consumidor de cerveja. Entretanto, atualmente 99% do lúpulo consumido pelo Brasil é importado da Alemanha e Estados Unidos", explica a professora, que atua em conjunto com colegas e alunos do curso de Agronomia.
"Desta forma, me interessei em pesquisar mais sobre essa cultura e verifiquei que no Sul do Brasil o cultivo já é realidade, onde muitos agricultores estão vivendo com o lucro do seu cultivo. Mas, em regiões de clima mais quente, como Mato Grosso, essa cultura ainda não é praticada”.
Segundo a pesquisadora, o lúpulo não exige grandes extensões de terra e tem alto valor agregado. Por ser uma trepadeira, é possível cultivar entre 2,5 mil a 3 mil plantas em 1 hectare. Por isso pode ser uma excelente fonte de renda para o pequeno produtor, ao mesmo tempo em que promove o fornecimento de insumos de qualidade e baixo custo às indústrias farmacêutica, de cosméticos e cervejeira.
No Brasil quase não se produz lúpulo devido a condições não favoráveis para a cultura. Além da luminosidade, há o problema da temperatura, uma vez que a ideal para a produção gira entre 5ºC e 22ºC. Mas a pesquisadora afirma que os resultados até agoram demonstraram uma ótima adaptação ao clima e solo mato-grossenses.
A iluminação artificial, instalada no centro universitário, por exemplo, tem contribuído significativamente para o desenvolvimento da planta, aumentando a luminosidade por duas horas diárias, pois o lúpulo precisa de 12 a 15 horas de luz, dependendo da variedade.
“Outra dificuldade foi a presença de ácaro nessa cultura, o que foi superado com manejo preventivo”, relata.
A colheita de lúpulo de janeiro servirá como parâmetro para determinar a produtividade e analisar a qualidade da planta.
Ainda de acordo com a coordenadora, até o momento tem se observado uma evolução positiva. “Tudo indica que é possível obter duas ou até três safras ao ano em nosso clima quente.”
A planta atinge a sua fase adulta a partir do 3° ou 4° ano, dependendo da variedade, e só após esse período é que vai estar apta para fornecer o seu potencial máximo em qualidade e produtividade.
No entanto, são cultivadas somente as plantas femininas, pois elas possuem uma glândula chamada lupulina, responsável pela produção das substâncias que dão o amargor e aroma.
"Já podemos afirmar que o lúpulo produzido é de boa qualidade devido à grande quantidade de lupulina e aromas apresentados nos cones."
As mudas foram adquiridas de um viveiro 100% legalizado dentro das normas do Ministério da Agricultura e Pecuária.
O laboratório da universidade, em Lucas do Rio Verde
Elas chegaram na universidade em junho de 2021, sendo inicialmente cultivadas na estufa. Após adquirirem tamanho suficiente, foram replantadas no solo.
Cada variedade em estudo é utilizada para um ou mais estilos de cerveja e cada uma possui característica próprias de amargor e aroma.
A universidade tem como um dos objetivos fornecer lúpulo para as cervejarias mato-grossenses, e incentivar, além de auxiliar, a agricultura familiar.
Está nos planos da pesquisadora, que dá aulas de produção artesanal de cerveja desde 2017, a produção de uma bebida com o lúpulo da universidade.
O projeto de pesquisa conta com a participação de professores e alunos da Instituição, a professora Ma Ivonete Hoss (química), a professora doutora Camila de Aquino Tomaz (agrônoma), o professor doutor Caio Vilela, a professora doutora Juliana Pereira Bravo (bióloga) e a professora doutora Queli Ruchel (agrônoma).
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