Planta de 4,5 mil anos e 180 km de extensão é a maior e mais velha do mundo - Revista Galileu | Um Só Planeta

2022-06-03 18:06:04 By : Ms. poppy chen

Planta Posidonia australis descoberta na Austrália é a mais antiga e mais velha do mundo (Foto: Cortesia UWA)

Em águas rasas da baía Shark, na Austrália Ocidental, pesquisadores encontraram um raro exemplar de uma erva marinha da espécie Posidonia australis. Eles acreditam que a planta de 180 km de extensão é a maior do mundo e também a mais velha, com pelo menos 4,5 mil anos. A descoberta foi descrita nesta quarta-feira (1º) no jornal Proceedings of the Royal Society B.

Uma equipe de pesquisadores da Universidade da Austrália Ocidental e da Universidade Flinders encontrou a planta durante uma coleta de brotos de algas marinhas na região. Com base em 18 mil marcadores genéticos, os pesquisadores geraram uma “impressão digital” do que pareciam ser diversas plantas diferentes.

“A resposta nos surpreendeu – havia apenas uma [espécie]! Apenas uma planta se expandiu por mais de 180 km na baía, tornando-a a maior planta conhecida na Terra”, recorda Jane Edgeloe, principal autora do estudo, em comunicado. “ Os 200 km² existentes de prados de ervas daninhas parecem ter se expandido a partir de uma única muda colonizadora", ressalta. 

A planta gigantesca não tem sexo e pode ser estéril, segundo o ecologista Martin Breed, coautor do estudo. Isso torna a erva marinha um enigma ecológico — ainda mais diante das alterações ambientais dos oceanos. “As plantas que não têm sexo tendem a ter também uma diversidade genética reduzida, que normalmente precisam [para sobreviver] quando lidam com mudanças ambientais”, diz.

De acordo com o especialista, as ervas marinhas enfrentam variações de temperatura média que vão de 17ºC a 30ºC. As mudanças de luz também afetam as plantas, que habitam de áreas escuras à luz alta. Isso costuma ser altamente estressante, porém a P. australis parece ter prosperado. 

A espécie tem diferenças genéticas sutis que a ajudam a lidar com os desafios do ambiente. O que a torna única em termos de genética é que ela tem o dobro de cromossomos que seus "parentes", ou seja, trata-se de um ser vivo com uma condição chamada poliploidia, de acordo com a bióloga Elizabeth Sinclair, autora sênior da pesquisa.

A duplicação do genoma da planta acontece quando os próprios “pais” da muda são diploides (têm células com cromossomos dispostos aos pares), e resultam em um ser híbrido. “A nova muda contém 100% do genoma de cada pai, em vez de compartilhar os 50% usuais”, explica Sinclair.

Plantas poliploides como a P. australis vivem normalmente em ambientes extremos. Apesar de serem estéreis, podem continuar a crescer se não forem perturbadas. “Mesmo sem floração e produção de sementes bem-sucedidas, [essa planta] parece ser realmente resiliente, experimentando uma ampla gama de temperaturas e salinidades, além de condições extremas de luz alta, que juntas normalmente seriam altamente estressantes para a maioria das plantas”, resume a cientista.

Os autores da descoberta querem fazer mais experimentos na baía Shark para entender como uma planta tão velha e gigantesca prospera sob condições tão incertas. Eles supõem que o fato de ela ser poliploide pode ter ajudado. “A duplicação de todo o genoma pode ser um mecanismo particularmente eficaz para aumentar a diversidade de uma espécie, onde as populações são muitas vezes pequenas, com baixa diversidade genética e vivem em limites fisiológicos”, escrevem os pesquisadores.

Um Só Planeta (Foto: Um Só Planeta)