Solução II para reparar as florestas: Plantar árvores

2022-07-22 17:43:18 By : Ms. Alina Xu

Parte de uma antiga plantação de eucaliptos em Itatinga, no Brasil, foi integrada numa experiência para desenvolver formas económicas de regeneração florestal. Investigadores da Universidade de São Paulo plantaram árvores autóctones ao lado de eucaliptos de crescimento rápido, que podem ser cortados e vendidos passados poucos anos para ajudar a pagar a recuperação. As árvores autóctones reproduzir-se-ão naturalmente no solo deixado vazio pelo abate.

Plantar mais árvores, sem exagerar. Dar às plântulas espaço para terem vidas longas.

Entre explorações agrícolas e pastos verdejantes, 225 quilómetros a noroeste de São Paulo, no Brasil, duas “florestas” tropicais crescem como uma só. A primeira é composta por uma única espécie, fila após fila de eucaliptos introduzidos, plantados em linhas perfeitas, como se fossem cenouras. A outra é desordenada, um sortido de dezenas de variedades de jovens árvores autóctones.

Não há como negá-lo: esta “floresta” tem um aspecto ridículo. Os eucaliptos desengonçados parecem dedos de bruxa, compridos e esguios, crescendo bem alto acima de conjuntos de figueiras atarracadas e árvores perenes. No entanto, este hectare desordenado de árvores nativas, rodeado por um anel de espécies exóticas de crescimento rápido, é um de muitos esforços promissores para ressuscitar as florestas do planeta.

Segundo Pedro Brancalion, agrónomo da Universidade de São Paulo que concebeu esta experiência, os eucaliptos crescem tão depressa que podem ser cortados passados cinco anos e vendidos para fabricar papel ou postes de vedação. Isso cobre quase metade, ou mais, do custo de plantar as árvores nativas de crescimento lento, cujas sementes se propagam naturalmente no solo deixado livre pelo abate. E este processo não prejudica a regeneração natural.

Actualmente, não é preciso desenvolver grandes esforços para identificar organizações que tentam salvar o mundo, plantando árvores. Existe a Bonn Challenge, patrocinada pelo governo alemão e pela União Internacional para a Conservação da Natureza, que procura agregar países no esforço de reflorestar 350 milhões de hectares até 2030. As principais campanhas plantam plântulas e, simultaneamente, desenvolvem esforços para restaurar ou conservar as florestas existentes. Algumas empresas vão ao ponto de oferecer promoções de “compre um, plante uma” para itens tão extravagantes como decantadores de whisky ou equipamentos de surf.

Contudo, na opinião dos especialistas em silvicultura, um número excessivo de campanhas de plantio ainda falha. Numa visita a outro destes vastos espaços florestais, no Outono passado, o ecologista brasileiro desenhou rectângulos do tamanho de jornais no solo para representar os seus lotes e descobriu que, se deixar partes de cada lote inteiramente despidas de árvores (ou seja, se aplicar plântulas em apenas metade do terreno), o bosque enche-se sozinho. Décadas mais tarde, embora plantando menos, terá poupado dinheiro e produzido uma densa floresta selvagem.

Trabalhadores de uma antiga plantação de eucaliptos estão a transformá-la em floresta autóctone, numa quinta experimental gerida pela Universidade de São Paulo. Anderson da Silva Lima e Eder Araujo plantam capororoca, uma espécie predominante na Mata Atlântica do Brasil.

Concentrando-se no número de árvores como “indicador genérico, gasta-se mais dinheiro e obtêm-se menos benefícios”, resume Pedro Brancalion. Literalmente, podemos perder de vista a floresta se pensarmos demasiado nas árvores.

A plantação de árvores parece uma forma simples e natural de contrabalançar as esmagadoras crises provocadas pelas alterações climáticas e pela perda de biodiversidade. As árvores criam habitats para a vida selvagem e absorvem o dióxido de carbono da atmosfera.

Não admira que as árvores sejam aclamadas como a arma ideal. Por que não havemos de plantar mais e resolver mais problemas? No entanto, em todas as operações de envergadura, aconteceram fracassos devastadores. Na Turquia, no Sri Lanka e no México, plantações em massa resultaram em milhões de plântulas mortas ou levaram os agricultores a abaterem florestas saudáveis noutros locais. Árvores plantadas nos sítios errados reduziram o abastecimento de água aos agricultores, destruíram o solo de pradarias absorvedoras de carbono altamente diversificadas ou permitiram o alastramento de vegetação invasora. “Não me parece que plantar árvores seja uma solução simples”, diz a ecologista Karen Holl, da Universidade da Califórnia, que colabora com Pedro Brancalion. A reflorestação do planeta não substitui a necessidade de redução das emissões provenientes do consumo de carvão, petróleo e gás natural. A plantação de árvores também não pode substituir as florestas de crescimento antigo. Esses intrincados sistemas biológicos (e de captura de carbono) demoraram centenas ou milhares de anos a aperfeiçoar. Salvá-los é ainda mais importante do que criar florestas novas.

O verdadeiro valor de uma árvore é a sua longevidade, o que significa que alguém tem de garantir que ela não morra. Quando Karen Holl examinou as propostas de plantação de árvores apresentadas no Fórum Económico Mundial, descobriu que até as melhores iniciativas só monitorizavam os resultados durante 24 meses. Se o objectivo é o armazenamento de carbono e a biodiversidade, “não podemos avaliá-lo em dois anos”, disse.

Também é importante saber onde e como são plantadas. O aumento do número de árvores no extremo setentrional longínquo, coberto de neve, escurece a paisagem, fazendo-a absorver mais luz solar e aumentando potencialmente o aquecimento climático. A sua plantação em prados nativos pode danificar paisagens igualmente importantes. Em 2019, quase metade dos países participantes no Bonn Challenge planearam semear árvores e cortá-las regularmente para aproveitamento da madeira ou fabrico de polpa de papel. E isto apesar do facto de as florestas naturais sequestrarem, em média, muito mais CO2.

O que devemos, então, fazer?

Para Pedro  Brancalion, há uma resposta evidente: recuperar as florestas nativas, sobretudo nos trópicos, onde as árvores crescem depressa e a terra é barata. Isso pode exigir plantação, mas pode também exigir a limpeza de ervas invasoras, o rejuvenescimento dos solos ou a melhoria do rendimento das culturas, para que seja necessária menos terra para a agricultura e mais terra possa ser devolvida à floresta.

Pedro Brancalion centrou a sua atenção na Mata Atlântica do Brasil, 75% da qual foi eliminada e substituída por cidades, ranchos ganadeiros, produção de papel ou culturas de cana-de-açúcar e soja. Muitas vezes, porém, essa terra não é bem utilizada. Vastos terrenos de cultivo de cana-de-açúcar não dão lucro. “Custam dinheiro”, diz Pedro Brancalion. Esses terrenos, em encostas íngremes, junto do que resta de bolsas florestais, oferecem oportunidades de recuperação. A eficiência agrícola permitiria disponibilizar mais terra.

A combinação de culturas de eucalipto com plantações de espécies autóctones é apenas uma forma de lembrar que uma recuperação saudável deve contribuir para o bem-estar das populações locais. Desde que os agricultores do Níger descobriram que podiam cultivar mais cereais plantando em redor das terras florestadas – em vez de as abaterem – cerca de 200 milhões de árvores regressaram. Não muito longe do local onde me encontrei com Pedro Brancalion, os habitantes, auxiliados por uma organização ambiental sem fins lucrativos, plantaram fileiras de árvores para colher lenha e fruta e cultivaram feijões em torno de florestas degradadas, ajudando a evitar a extinção do mico-leão-preto.

Quando os recursos são limitados e não há tempo a perder, forçar o arranque dos processos naturais poderá ajudar. Em muitos casos, se deixarmos a natureza fazer os maiores esforços sozinha, “a floresta poderá voltar a crescer de forma bastante eficaz”, resume o investigador brasileiro.