Altamente tecnológicas, as fazendas urbanas têm atraído a atenção de grandes varejistas. Os investidores de venture capital já descobriram o potencial da agricultura indoor e destinaram US$ 1,57 bilhão para o setor em 2021 – o triplo do ano anterior
Fazenda urbana da alemã Infarm
Para o alemão Erez Galonska, autossuficiência é sinônimo de liberdade. E ele preza ser livre. Em 2004, aos 21 anos, começou a investigar como poderia produzir sua própria energia, captar sua própria água e cultivar seu próprio alimento. Determinação não lhe faltava. Tanto que, no ano seguinte, o jovem se jogou no mundo.
Pagando a hospedagem com o próprio trabalho, conheceu comunidades agrícolas de todos os tipos e tamanhos. “No auge desta jornada, eu morava em uma montanha nas Ilhas Canárias e era completamente autossuficiente”, contou a Jerome Königsfeld, sócio da consultoria McKinsey, em Colônia, na Alemanha. “Durante esse tempo, fiquei obcecado em plantar minha própria comida.”
De volta a Berlim, ao estudar uma forma de cultivar sem terra, Erez descobriu a hidroponia. Por essa técnica, as raízes, suspensas em meio líquido ou apoiadas em substrato inerte, são alimentadas com uma mistura de água e sais essenciais. Um ano depois, com o irmão caçula Guy, montou sua primeira fazenda –na sala de estar da casa dos pais.
Em 2013, os dois se juntaram a israelense Osnat Michaeli e fundaram a Infarm, startup das fazendas modulares mais avançadas, facilmente escaláveis e de rápida implantação do mundo, segundo definição da plataforma Crunchbase.
Com a ambição de tornar as cidades autossuficientes na produção de alimentos, a Infarm faz do corredor de um supermercado, do andar de um arranha-céu, de um galpão… lavoura de cultivo de vegetais e frutas. Em dezembro do ano passado, depois de um aporte de US$ 300 milhões, em uma rodada de investimentos de série D, a empresa se transformou no primeiro unicórnio europeu do setor de fazendas indoor; também chamadas de urbanas.
Até 2030, os irmãos Galonska e Osnat almejam chegar a vinte países, o dobro do que têm hoje. Querem conquistar sobretudo a Ásia e o Oriente Médio. Entre seus clientes estão gigantes como as americanas Amazon Fresh e Whole Foods Markets, as francesas Casino, Intermarche e Auchan, as inglesas Marks & Spencer e Selfridges, a suíça Migros, a alemã Aldi Süd e a canadense Sobeys. Quase 2 mil lojas espalhadas pela Europa, América do Norte e Japão… and counting.
Em 2021, a Infarm recebeu o maior volume de investimentos entre todas as startups de agricultura sustentável da Europa, conforme o levantamento mais recente do fundo americano de venture capital AgFunder realizado em parceria com a aceleradora holandesa F&A Next. De cada US$ 100 investidos em fazendas indoor, US$ 66 foram parar nos cofres da empresa alemã.
Graças ao aperfeiçoamento de tecnologias como internet das coisas, ciência de dados, inteligência artificial e big data, a agricultura volta às suas raízes. “Podemos novamente cultivar os alimentos onde são eles consumidos”, diz Erez, CEO da Infarm. Tem mais. Com as fazendas indoor, a agricultura 4.0 caminha rumo à personalização.
“Nós fazemos o inverso da prática dominante hoje, que opera segundo a estratégia pushing. Usamos os dados para entender as preferências dos clientes e cultivar os alimentos de acordo com suas necessidade”, completa o executivo. Bem-vindos ao futuro da alimentação!
Os olhos dos investidores brilham. “2021 foi um ano marcante para a agricultura indoor. Os investimentos privados triplicaram, fusões e aquisições foram aceleradas e empresas abriram capital”, sintetiza o documento 2021 Indoor AG – Funding Review, elaborado pela fintech americana Contain, especializada em agricultura de ambiente controlado.
Os investimentos privados no setor somaram US 1,7 bilhão, atraindo a atenção de empresas como a Cargill e a Barclays e até algumas celebridades, como o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton. Em 2020, os aportes somaram US$ 565 milhões. No ano anterior, US$ 385 milhões e, em 2018, US$ 275 milhões.
Há espaço para crescer ainda mais, apostam os especialistas. A certeza vem dos números apresentados pela AgFunder, no relatório AgFoodTech Investment Report 2022. No ano passado, globalmente, as agtechs receberam US$ 51,7 bilhões em investimentos – um aumento de 85% em relação ao ano anterior. Entre os grandes aportes de 2021, além dos US$ 300 milhões obtidos pela Infarm, a fintech Contain, destaca:
• A Bowery recebeu US$ 300 milhões, em uma rodada de investimentos de Série C, liderado pela Fidelity Management. Com isso, a valuation da startup nova-iorquina chegou a US$ 2,3 bilhões. • Em uma rodada de Série C, capitaneada pela General Atlantic Funds, a A 80Acres, de Ohio, levantou US$ 160 milhões. • A Pure Harvest Smart Farm, de Abu Dhabi, conseguiu US$ 125 milhões, em duas rodadas de investimento e uma de private debt.
Avaliado em US$ 39,5 bilhões, o mercado global de agricultura de ambiente controlado, até 2030, deve crescer a taxa composta anual (CAGR) de 13,5%, informa a consultoria americana Grand View Research. No setor, o segmento agrícola vertical, segundo previsão dos analistas, deve evoluir ainda mais rápido –a um CAGR de 22,9%, nos próximos oito anos.
O ecossistema das fazendas urbanas está em ebulição. “Com a chegada ao setor das SPACS [Special Purpose Acquisition Companies, popularmente conhecidas como “empresas de cheque em branco”], 2021 foi o ano da abertura de capital das startups agroalimentares”, avaliam os pesquisadores da AgFunder. Em novembro, por exemplo, foi anunciada a fusão da Leo Holdings III Corp., uma SPAC de capital aberto, com a Local Bounti, startup de agricultura indoor, de Montana. Valor da transação: US$ 1,1 bilhão.
Em fusões e aquisições, a americana Kalera fez dois negócios importantes. Comprou a alemã &ever, por US$ 153 milhões, mirando os mercados da Europa, Oriente Médio e Ásia. Com a aquisição da Vindara, sediada em Orlando, a Kalera pretende avançar em pesquisa e desenvolvimento de sementes. No início do ano, a holandesa Signify, líder mundial em iluminação para o setor de agricultura em ambiente controlado, adquiriu a Fluence, empresa do grupo austríaco Osram.
Mais recentemente, o Walmart investiu US$ 400 milhões nas fazendas verticais da Plenty. Suas lojas na Califórnia serão abastecidas com produtos vindos das torres de seis metros de altura, instaladas em São Francisco. No Brasil, a Ambev firmou parceria com a 100% Livre para produzir lúpulo na fazenda da empresa na capital paulista.
O entusiasmo em torno da agricultura de ambiente controlado é compreensível. Junto com o desenvolvimento de proteínas alternativas e de sistemas alimentares circulares, as fazendas urbanas são peças-chave na mitigação do impacto da cadeia agroalimentar nas mudanças climáticas. “O setor desempenha um papel vital na transição para a economia circular e o mundo carbono zero”, informa o documento AgFunder European Investment Report 2022. As cidades revolucionam o campo.
Em 2050, a população mundial deve chegar a 10 bilhões de pessoas. Delas, 80% viverão em cidades. Para alimentar toda essa gente será preciso mais comida nas próximas quatro décadas do que nos últimos 8 mil anos. E, atualmente, 80% de todo o solo adequado à agricultura está comprometido. Dos quais, 15% estão inutilizados, pelo uso inadequado. Tem mais.
Aproximadamente, 14% de todo o alimento produzido globalmente são perdidos entre a colheita e sua chegada ao varejo. E 17% são desperdiçados em cadeias longas demais, rígidas demais e vulneráveis demais. Impossível continuar do jeito que está. E as fazendas indoor podem ajudar parte dos problemas.
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