Banco de Germoplasma Vegetal aumenta produção para preservar variedades de cereais

2022-07-29 17:35:24 By : Mr. surest chan

A missão do banco é assegurar soberania e segurança alimentares. Ouça a reportagem TSF.

A crise dos cereais provocada pela guerra na Ucrânia levou o Banco Português de Germoplasma Vegetal (BPGV) a aumentar a produção para multiplicar as amostras conservadas que garantem a sobrevivência alimentar.

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"Para além de estudar, de caracterizar [os recursos genéticos] também temos que o multiplicar porque as amostras que também os agricultores nos dão são pequenas e, portanto, temos que incrementar a quantidade também para a conservação", revela à TSF Ana Maria Barata, coordenadora daquela estrutura.

Instalado em S. Pedro de Merelim, em Braga, este banco de sementes, que está na dependência do Ministério da Agricultura, guarda uma das maiores coleções de milho do mundo, atualmente valorizado para a pequena produção de pão. Ao todo são mais de 45 mil amostras de mais de 100 espécies diferentes de cereais, leguminosas-grão, hortícolas, plantas aromáticas e medicinais, forragens, pastagens e fibras (linho) que se encontram guardadas naquele espaço.

Ouça aqui a reportagem da TSF

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Mundialmente, o Banco Português de Germoplasma Vegetal é conhecido por guardar uma das maiores coleções de milho conservadas, que de outro modo correm o risco de desaparecer. "O sistema produtivo alterou-se, deixou de se produzir tanto com variedades tradicionais, ou regionais, e passou-se a produzir com sementes híbridas. Todas as variedades que estão aqui conservadas, ou grande parte delas, já não estão a ser produzidas pelos agricultores", explica a coordenadora.

A grande missão do BPGV é assegurar a soberania e segurança alimentares no presente mas também nas gerações futuras. Procedem à colheita, conservação, caracterização e valorização dos recursos genéticos, de modo a assegurar a diversidade biológica e a produção agrícola sustentável.

Criado em 1977, com recursos da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), este banco de sementes acompanha os problemas associados à crise dos cereais, tendo já reforçado a produção para aumentar as amostras de sementes.

Por causa da guerra, o banco congénere da Ucrânia perdeu uma vasta coleção de 160 mil entradas conservadas, três vezes mais do que as que dispõe o Banco Português de Germoplasma Vegetal, o que reforça a "importância de duplicar as coleções noutras estruturas de conservação para salvaguardar estes problemas, que já aconteceram na Síria", revela Ana Maria Barata.

Entre os bancos mundiais do género, o BPGV é o único que fornece sementes aos agricultores. E a procura até tem aumentado, mas não tanto pela crise alimentar. "Tem havido procura sobretudo ao nível de jovens agricultores, que se querem instalar em modo de produção biológica", interessados em voltar a produzir variedades ancestrais.

São muitas as ameaças à agrobiodiversidade que tornam este Banco de Germoplasma Vegetal num verdadeiro tesouro nacional da sobrevivência alimentar. Para além da guerra, as pragas e doenças são outras catástrofes que podem dizimar as espécies vegetais. "Aliás já está a acontecer. Temos uma coleção conservada de pereiras e algumas macieiras, conservadas in-vitro, por questões sanitárias, provocadas por doenças que têm vindo a aparecer nas árvores", detalha.