Gabi Coelho, especial para o Estado
Imagens que registram um dia em que o céu ficou roxo na cidade de Leamington, no Canadá, intrigaram internautas. Nos comentários de uma postagem no Facebook com as imagens, alguns dizem ser montagem e outros citam efeitos da poluição. Na realidade, a coloração do céu é resultado das luzes LED, utilizadas em estufas para estimular o crescimento de plantações.
Low clouds, some light rain/drizzle/fog, and greenhouse lights…create this effect. pic.twitter.com/hDM3jdg5jr
— Tony Annyschyn (@Bowler1961) September 10, 2020
O município de Leamington tem a maior concentração de estufas comerciais em toda a América do Norte. Os principais produtos fabricados nas indústrias da cidade são tomates, pimentas, cannabis, pepinos, rosas e outras flores, com o auxílio de diferentes tipos de lâmpadas de cultivo para produzir durante todo o ano.
Por causa disso, o fenômeno do céu roxo em Leamington não é raro. No Instagram, é possível encontrar outros registros (veja abaixo).
Desde que llegué aquí me preguntaba que son esas luces en el cielo de lemington y hoy me enteré que son los rayos UV que usan en los campos de marihuana medicinal
A post shared by Peter Parker (@pet_raya2) on Sep 9, 2020 at 7:20pm PDT
Check out Leamington’s sky this morning!! Alien invasion? Northern lights? You tell me. 🤔
A post shared by Mix 96.7 (@themix967) on Aug 27, 2019 at 4:14am PDT
Na postagem analisada pelo Estadão Verifica, o roxo é mais intenso que os exemplos acima. Na foto que acompanha a publicação, é possível ver uma loja da lanchonete Tim Hortons — o Google Maps indica que a localização da unidade é bem próxima a uma estufa de cannabis.
Já o vídeo que circula no Facebook foi inicialmente divulgado no Twitter por uma conta que registra imagens de tempestades e de outros acontecimentos naturais. O usuário que publicou o vídeo afirma nos comentários que não editou a gravação e que a luz roxa é de uma estufa de maconha próxima.
Eerie pink/purple skies this morning in the fog near Leamington Ontario this morning. #onstorm #onwx pic.twitter.com/bquntP4t0m
— Craig Dunmore (@CraigDunmore) September 10, 2020
De acordo com a professora Taciana Albuquerque, do departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a cor do céu pode mudar com a presença de poluição do ar e de acordo com a maneira com que ela interage com a luz. “Com a baixa cobertura de nuvens, às luzes de LED vermelhas e azuis da estufa se espalharam pelo céu à noite, criando essa incrível névoa roxa”, diz ela.
Em entrevista à emissora canadense CBC, a prefeita de Leamington, Hilda MacDonald, explicou que o município não tem nenhuma regra de emissão de luz até o momento e está tentando encontrar a melhor forma de lidar com a questão, considerando a economia da cidade.
A poluição luminosa pode ter consequências negativas para os humanos, animais e até plantas. Um estudo publicado na revista Nature aponta que a luz artificial pode desorientar as aves migratórias. Já os animais noturnos aproveitam a escuridão para caçar, enquanto as presas noturnas usam a baixa luminosidade para se esconder. A claridade fora de hora pode alterar todo um ecossistema, provocando a extinção de espécies na natureza. Em relação aos humanos, essas luzes podem alterar nosso ritmo circadiano e prejudicar o ciclo de sono.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
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