Conheça um esforço conjunto de promoção de igualdade racial que tem como símbolo uma mulher brasileira.
O Brasil desde o seu período colonial mostrou vocação para a produção agrícola de grande escala, inicialmente com a cana de açúcar, estabelecida de início no Nordeste e, mais timidamente, na então Capitania de São Vicente, que mais tarde daria origem ao Estado de São Paulo.
Esse tipo de agricultura se caracteriza pela monocultura, ou seja, quando um único cultivo é dedicado, ocupando extensas áreas. O açúcar sempre foi um produto muito desejado e valorizado em todo o mundo, mas sua produção sempre ficou concentrada na faixa de clima tropical, pois luz e água são muito exigidas para o desenvolvimento da cana de açúcar. Outro item de grande demanda era a mão de obra, pois todo o serviço era braçal. Afinal, eram anos dos Séculos XVI e XVII.
Empregar indígenas logo se mostrou inviável, abrindo para o início do período escravagista de pessoas vindas da África, principalmente das colônias portuguesas Angola e Moçambique.
Poucas décadas depois, uma nova cultura, que vinha ganhando importância na Europa, chega ao Brasil pela região Norte, via Pará, até alcançar os arredores da então capital da Colônia, Salvador, BA: o café. Nessa sua passagem, foram semeados cafezais pelos planaltos e maciços nordestinos como o de Baturité, no Ceará, à região de Taquaritinga do Norte, em Pernambuco, que ainda hoje produzem belos cafés. A mão de obra escrava de afrodescendentes, que sempre representou a quase totalidade, passou dos canaviais para os cafezais, como esperado. A escravidão foi extinta com a Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, marcando o fim do Império e determinando o início da República.
Nos últimos anos, movimentos que buscam a Equidade Racial têm recebido maior atenção e importância, muito como forma de reparar uma situação de não inclusão social de muitos anos.
Em 2020, um dos fatos que mais chocou o mundo foi o lamentável caso de George Floyd, que deflagrou diversos movimentos, dos quais o “Black Lives Matter” se tornou o mais significativo.
Esse evento motivou a comerciante de café Phillys Johnson, que fundou, em 1999, com seu marido, a BD Imports, empresa que se especializou em importar para o mercado norte-americano cafés produzidos no Kenya e de cafés do Brasil produzidos por afrodescendentes, a criar projetos para promover maior inclusão e equidade racial.
Assim nasceu o CCRE – Coffee Coalition for Racial Equity/Coalizão para Igualdade Racial no Café, cujo objetivo é do promover a equidade racial com soluções consistentes na indústria do café. Sua formação contou com apoio de diversas entidades de alta representatividade no café como o IWCA – International Woman’s Coffee Alliance. Phillys Johnson e Dona Ivone. Foto: P. Johnson.
Phillys Johnson e Dona Ivone. Foto: P. Johnson.
Um dos instrumentos mais poderosos que o CCRE possui para estabelecer processos transformadores é uma bolsa de estudos que contempla pessoas que trabalham no mercado de café com cursos de formação e capacitação em renomadas escolas ou organizações voltadas à educacão. Como sempre, a Educação é a grande força de transformação.
Por uma feliz combinação e reconhecimento, a bolsa de estudos recebe o nome de Dona Ivone, que homenageia uma das figuras mais icônicas do IAC – Instituto Agronômico de Campinas, que é o mais antigo centro de pesquisas dedicado ao café no mundo.
Ivone Botoni Baziolli trabalhou no IAC durante 65 anos, a partir de 1949, ao lado dos mais importantes nomes da pesquisa cafeeira como o Dr. Alcides de Carvalho. Dona Ivone acompanhou pesquisas para o controle da ferrugem, a mais importante doença dos cafezais, bem como o desenvolvimento das variedades de cafeeiros que são muito utilizados como o Mundo Novo, o Obatã e o Icatu, entre outros.
Neste ano de 2022 foi feita a primeira seleção de profissionais contemplados pela Dona Ivone Schoolarship, sendo dois nos Estados Unidos e dois no Brasil, o Raphael Brandão e a Elis Bambil, viabilizada por generosa doação feita pela empresa de xaropes e extratos para bebidas Torani, baseada na região conhecida como Bay Area, na California.
Raphael Brandão, que iniciou Engenharia de Produção na UFRJ, começou a trabalhar com café há 3 anos e percebeu um mundo maravilhoso de sabores e aromas que transformam pessoas. Com apoio de seu antigo empregador, Allan Basílio, da Faço Café, do Rio de Janeiro, iniciou seu projeto de micro torrefação que utiliza apenas grãos produzidos por cafeicultores negros, a Café di Preto. Raphael Brandão torrando café. Foto: Divulgação.
Raphael Brandão torrando café. Foto: Divulgação.
A Bolsa de Estudos Dona Ivone permite escolha de diversos cursos de alto nível entre importantes entidades no Brasil, sendo a escolha de Raphael o de Ciência da Torra do Café, que aconteceu no laboratório e centro de educação do Sindicafé SP, na semana passada. Segundo Raphael, este curso serviu para aprofundar seus conhecimentos sobre ciência e processos que podem melhorar ainda mais seus produtos, que são: o Esperança, homenagem à Esperança Garcia, considerada a primeira advogada negra do Brasil, um Catuaí Vermelho do Cerrado Mineiro, e o Dandara, que faz referência à esposa de Zumbi dos Palmares, um Catucaí Vermelho do Noroeste Fluminense.
SERVIÇO: Café di Preto: www.shoppee.com.br/cafedipreto
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