“Águas cinzentas”: um nome pouco conhecido para a água que podemos – e deveríamos – reutilizar | Perguntas e respostas | PÚBLICO

2022-03-02 10:08:23 By : Mr. Gawain Tang

Reciclar água no espaço doméstico já é possível, mas o processo suscita muitas dúvidas, que começam logo no nome que é dado às águas que podem ser tratadas e reutilizadas. Dez perguntas e respostas para ajudar a compreender como funcionam os SPRAC – “sistemas prediais de reutilização de águas cinzentas”.

A “água cinzenta” é, essencialmente, o efluente que resulta da água consumida num edifício em banheiras, chuveiros e lavatórios. Alguns autores incluem as águas do lava-loiça ou até da máquina de roupa, mas, normalmente, dada a carga orgânica da primeira e os produtos químicos de detergentes presentes na segunda, são excluídas. A expressão “águas cinzentas” tem como contraponto as “águas negras”, que resultam, por exemplo, das sanitas, e as “águas amarelas”, que contêm gordura.

Sim. Um exemplo óbvio de reutilização são os sistemas de lavatório integrado com o depósito da sanita, já existentes no mercado. Mas há dispositivos e soluções de base natural (sistemas prediais de reutilização de águas cinzentas”) que recolhem águas provenientes de lavatórios e duches e que as tratam para poderem ser utilizadas nesta e noutras finalidades não-potáveis mais exigentes, como a limpeza do espaço doméstico, a lavagem de roupa e até para rega de plantas para consumo humano, por exemplo.

As “águas cinzentas” tratadas têm de obedecer a padrões de qualidade, mas não são potáveis. Aliás, é recomendado que, nas torneiras abastecidas com essa água, seja colocada uma placa com a mensagem “não beber”.

As duas soluções tecnológicas que o PÚBLICO encontrou à venda no mercado português (haverá outras, eventualmente) têm custos a rondar os 4000 euros, num caso, e 5000, no outro. E, ao contrário de outros dispositivos de eficiência energética e de eficiência hídrica, não contam com apoio do Programa Edifícios+Sustentáveis, do Fundo Ambiental. A solução de base natural que está a ser desenvolvida no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, ainda não tem um preço de mercado estabelecido.

A resposta depende do consumo de água na casa e da capacidade do próprio reciclador (que é normalmente expansível para poder ser também usado em equipamentos públicos ou na hotelaria, por exemplo). Depende também das necessidades, pois a água reciclada e não usada num determinado período é enviada pelo próprio dispositivo para o esgoto para conseguir acomodar a “água cinzenta” que vai entrando. Feita esta ressalva, sabe-se que cerca de metade das necessidades de água num lar podem ser satisfeitas com água “regenerada”. Se pensarmos que normalmente os consumos a partir de escalões mais elevados são penalizados na tarifa de água, aumentando os custos noutras taxas a ela indexadas, a poupança acaba por se reflectir na carteira.

Em grandes equipamentos, com uso intensivo de água, o retorno do investimento pode ser conseguido em poucos anos. Numa moradia familiar, a Associação Nacional para a Qualidade das Instalações Prediais (ANQIP) estima que, dados os preços de aquisição e instalação destes equipamentos e o baixo custo de fornecimento de água em Portugal, seja necessário cerca de 20 anos para recuperar o investimento.

Sim. Este tipo de reciclador despende energia para o processo de limpeza da água que recebe e para o bombeamento da água reciclada. Consoante as marcas e a quantidade de água tratada, o custo pode ir de 1,5 a três euros por mês para tratar alguns metros cúbicos de água. Mesmo uma solução de base natural implicará custos com o bombeamento, se ele for necessário.

Dependendo das marcas e dos dispositivos que fabricam, há várias formas de depuração da “água cinzenta” com o objectivo de a separar de sedimentos, da carga orgânica que contém e de produtos químicos presentes, por exemplo, nos sabões usados no banho ou nos produtos de limpeza. Ao nível microbiológico, há máquinas que recorrem a uma lâmpada UV para eliminar germes eventualmente presentes no efluente, ou a cloro, como nas piscinas.

Se forem cumpridas as normas de instalação, uso e manutenção destas máquinas, a água é segura para usos não-potáveis e, num dos casos, pode ser reutilizada em piscinas. Em Portugal, a ANQIP certifica instaladores, projectos e a própria instalação destes sistemas que, apesar de já serem comuns noutros países, ainda não estão explicitamente previstos no Regulamento Geral dos Sistemas Públicos e Prediais de Distribuição de Água e de Drenagem de Águas Residuais, datado de 1995, e a carecer de actualização.

A instalação de um SPRAC deve ser pensada durante uma construção nova (em projecto) ou em obra de reabilitação que inclua alterações no sistema de água e saneamento de uma casa, pois implica uma reformulação deste último. Tendo em conta que a lei não prevê, ainda, o recurso a estes dispositivos, o ideal será perceber, junto do município e com o apoio do instalador ou da ANQIP, eventuais questões técnicas que possam ser levantadas.

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