Uma aula na Academia Unique, em Brasília (DF), terminou de um forma inesperada na noite da última segunda-feira (19). Grávida de 37 semanas, a engenheira Raquel Nóbrega, 28, estava participando de uma programação exclusiva para gestantes quando começou a sentir contrações e percebeu que sua bolsa havia estourado. Minutos depois, foi levada para o SPA da academia e deu à luz ao pequeno Augusto ali mesmo, antes que desse tempo de ser levada ao hospital.
As ginecologistas Bianca Muradas (à esq.) e Daniele Cidade (à dir.) participaram da assistência ao parto dentro da academia (Foto: Reprodução/Instagram)
Em entrevista à CRESCER, a educadora física Aline Souza, que conduzia a aula, contou como tudo aconteceu. "Quando estávamos fazendo alongamentos, a Raquel começou a sentir as contrações, com um pouquinho de dor. Perguntei se queria ligar para a médica ou para a doula e ela disse que não, mas mandou uma mensagem. No fim da aula, fizemos um controle de pressão arterial, que estava OK. Quando ela se levantou, me disse que achava que a bolsa havia estourado", lembrou.
Em seguida, a professora acompanhou a aluna até o banheiro, onde começaram as contrações mais fortes. Nesse meio tempo, acionaram o serviço de emergência e o marido de Raquel, que estava a caminho para levá-la para o hospital.
+ Minutos depois de receber alta, mulher dá à luz na calçada do hospital
"No percurso do banheiro para a saída da academia, a gente passa pelo SPA. Ela estava muito preocupada, queria sair e ir para a maternidade. Mas vimos que não daria tempo e que teria de ser ali mesmo. Foi no lugar certo e na hora certa, porque o SPA é o espaço mais quente e mais reservado da academia, para que o bebê pudesse nascer", contou a professora.
Uma equipe do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) chegou a tempo de poder assitir Raquel no trabalho de parto. Por sorte, outras duas ginecologistas também estavam na academia no momento e puderam orientar e acompanhar a situação. Uma delas, a ginecologista oncológica Daniele Cidade, estava treinando quando foi procurada por um personal trainer e avisada do que estava acontecendo.
SPA da Academia Unique, em Brasília (Foto: Divulgação)
"Eu estava no leg press quando ele veio me contar. Demorou para cair a minha ficha de que tinha alguém em trabalho de parto dentro da academia. Já participei de muitos tipos de parto, mas na academia foi a primeira vez. Quando cheguei ao SPA, encontrei a gestante deitada numa espreguiçadeira já com dilatação total", explicou, também em entrevista à CRESCER.
Além do Corpo de Bombeiros, Daniele contou com a parceira da também ginecologista Bianca Muradas Couto, que havia ido buscar o filho, de 10 anos, em uma aula na academia. Juntas, as duas examinaram Raquel e a ajudaram a controlar a respiração. "Foi tudo muito rápido, em questão de uns 10 minutos. O rapazinho, o Augusto, nasceu super bem, com o APGAR ótimo, mas ele tinha uma circular de cordão. Se não tivesse assistência, o parto demoraria mais e ele poderia entrar em sofrimento fetal", lembrou.
Na sequência, a equipe cortou o cordão umbilical, o bebê pode mamar pela primeira vez e, depois, foi encaminhado com a mãe para um hospital particular na Asa Norte.
Quando tudo aconteceu, a engenheira Raquel estava participando de um programa de atividades físicas personalizado para gestantes. Segundo a professora Aline Souza, antes de se matricular, as grávidas precisam passar por uma triagem, apresentar uma autorização médica, liberando a prática de atividade física, e compartilhar com a academia os contatos dos profissionais que estão acompanhando o pré-natal.
+ 8 exercícios para fazer na gravidez Três vezes por semana, as alunas fazem aulas de mobilidade e ginástica e, depois, partem para uma segunda rodada de exercícios na piscina. "A Raquel começou no programa com 5 semanas de gravidez e ficou até o parto. No dia, ela estava até com as coisinhas de natação, mas nem chegou a ir para a piscina, não deu tempo. Depois que as contrações começaram, as outras três alunas que estavam na aula ficaram com a gente dando força, pedindo para ela respirar... É o que a gente chama de sororidade", disse.
Fachada da Academia Unique, em Brasília (Foto: Divulgação)
Ainda que Raquel tenha parido enquanto fazia atividades físicas, sua história não deve ser encarada como um mau exemplo. "Não acho que foi imprudência da mãe, acredito que ela jamais imaginou que isso pudesse acontecer. A atividade física é, inclusive, estimulada no trabalho de parto, a gente pede para que a gestante se movimente para ajudar no processo", explicou a ginecologista Daniele Cidade. Movimentar-se, independente da forma, ajuda na musculatura da pelve e facilita o processo de expulsão. Você provavelmente já deve ter assistido nas redes sociais a vídeos de mulheres na maternidade, dançando antes de dar à luz, justamente para ajudar a gestante a relaxar e distrair enquanto espera o bebê chegar. "Só tem que prestar atenção aos sinais e como eles evoluem. Ao menor sinal de que o parto está próximo o melhor a se fazer é avisar o obstetra, como ela fez", finalizou.
Se não tem nenhuma restrição médica, a mulher pode fazer exercícios até a reta final da gravidez, como aconteceu com Raquel. Isso é, inclusive, recomendado. “Em linhas gerais, pode praticar exercícios toda gestante que seja saudável, não apresente sangramento e cujo feto esteja evoluindo de forma adequada durante o pré-natal”, afirma Fernanda Valente, da clínica Invita Medicina Reprodutiva (SP).
Mesmo assim, todo cuidado é pouco. Antes de mais nada, é preciso conversar com o obstetra para que ele libere e oriente sobre a rotina de treinos permitida. Até porque, no terceiro trimestre, são necessários alguns ajustes. “Principalmente mais para o fim, o tamanho da barriga vai oferecer alguma limitação aos movimentos, mas as atividades podem ser mantidas, provavelmente em menor intensidade e modificando a forma de execução", explica a personal trainer Gizele Monteiro, especializada em gestantes e pós-parto, mestre pela Unifesp e idealizadora dos programas online Gravidez em Forma e Pós-Parto – Mães em Forma (SP).
Nesta fase final da gestação, exercícios como caminhada, fortalecimento e alongamentos costumam ser uma boa e podem ser importantes para amenizar o inchaço e ajudar na prevenção de varizes e de câimbras causadas pela fadiga das pernas.
Um estudo publicado no The European Journal of Obstetrics and Gynecology and Reproductive Biology mostrou que mulheres que se exercitam três vezes por semana durante a gravidez têm um trabalho de parto mais curto do que as sedentárias. Além disso, o exercício se reflete na melhor condição física da mulher, que tem mais resistência para suportar as horas de trabalho de parto. “Quando você evita dores lombares, pélvicas, no quadril, de membros inferiores, por ter uma vida ativa com os exercícios certos, isso ajuda no parto. Uma mulher sem dor entra mais preparada emocionalmente na sala de parto”, diz Gizele.
Grávidas ativas também tendem a ter um processo de amamentação mais leve. “As mães que estão com braços, costas e ombros fortalecidos vão passar melhor por essa fase, em que se carrega o peso do bebê no colo por muito tempo”, diz Fernanda Valente.